Carta aberta à senadora Kátia Abreu - 25 de Junho de 2010
Recentemente, me encontrava no Pantanal trabalhando com gado, como de praxe nos períodos de vacinação e reforço. Nós, pantaneiros, prezamos pela vacinação do nosso rebanho, daí a ausência de focos de aftosa nos últimos anos. No entanto, tive a oportunidade de ler a entrevista veiculada na revista VEJA (28/04/2010) da nossa representante mor do agronegócio brasileiro, a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Confesso que senti orgulho de ser o pecuarista e pantaneiro que sou, pois faço parte da quarta geração de ocupantes deste longícuo Pantanal sul-mato-grossense. Mais precisamente, da região da Nhecolândia, nome de difícil pronúncia, mas que faz jus ao nosso pioneiro e desbravador, Sr. Joaquim Eugênio Gomes da Silva, o Nheco, daí o nome originário desta que é segunda maior sub-região pantaneira.
O Pantanal, como todo o Brasil, tem sua história e cultura extremamente presente em suas origens, porém, por falta reconhecimento e políticas governamentais. Os políticos se esqueceram da existência dos legítimos pantaneiros e, consequentemente, estamos entrando para a lista de extinção de um povo. Acabar com o homem pantaneiro é acabar com o Pantanal. Infelizmente esse não é o pensamento e a preocupação de algumas ONG’S que se dizem ambientalistas, mas desconsideram e descriminam quem sempre preservou o Pantanal.
Pela primeira vez, nos últimos anos, alguém levanta a bandeira e quebra os paradigmas existentes a respeito do agronegócio. Alguém tomara para si a responsabilidade de resgatar e difundir as verdades sobre o setor que contribui com o PIB brasileiro. E esse alguém precisou ser uma mulher. Que vem exercendo este papel de liderança com desenvoltura e competência junto a presidência da CNA. Acredito neste novo momento pela qual estamos passando, basta esclarecer a toda a população que o leite não vem da caixinha “tetra park”, que a carne não é só embalada a vácuo e que existe uma cadeia produtiva organizada. Uma produtividade que assusta as grandes potências mundiais. Aliás, no quesito agronegócio nós já somos uma potência inquestionável, imagine se recebêssemos os subsídios que os produtores rurais do outro lado do mundo recebem de seus governos. Onde é que o Brasil iria parar?
A senadora Kátia Abreu foi muito feliz em desafiar os representantes governamentais a administrar uma propriedade rural independentemente do tamanho e localização. Os respectivos administradores devem cumprir com as leis trabalhistas brasileiras, e principalmente, com as exigências ambientais, tais como: apresentação da cadeia dominial, georeferenciamento da propriedade (dependendo da época e do aparelho de GPS, temos que refazer o trabalho já apresentado ao INCRA, não sei se a lua influencia nessas exigências, mas a todo instante se cria uma nova normativa, o que vale no dia de hoje poderá não valer daqui a alguns meses), e por último, a reserva legal averbada e georeferenciada. Tudo com prazo a cumprir, mas a resposta desses trabalhos vem a perder de vista, com a demora de alguns anos para recebermos a certificação da propriedade. Haja dinheiro e paciência para arcar com todas essas exigências.
Sugiro então, que seja o Pantanal a cobaia de tal experiência administrativa senadora Kátia Abreu. Assim eles desistiriam logo de cara porque aqui é longe e faz muito calor, mas quando esfria, faz frio mesmo. Tem mosquito em certas épocas do ano, como expressa um legítimo pantaneiro quando perguntado sobre a intensidade da enchente, respondendo de maneira simples, objetiva e principalmente verdadeira: “Se chover enche, se não chover, não enche”.
Assim é o Pantanal. Nós não temos estradas, mas sim ”acessos”, a telefonia está mais para “MORTA” do que para “VIVO”. Probleminhas que fazem parte do nosso dia-a-dia enquanto pantaneiro, que não é para qualquer um. Perdoem-me o esquecimento, faltou-me citar a mão-de-obra local: com tantos “VALES” oferecidos pelo governo assistencialista e populista nas cidades, contratar um peão está ficando cada vez mais difícil. É o incentivo ao inquestionável êxodo rural em vigência. Quem sabe os nossos “experientes administradores” possuam alguma fórmula secreta em administrar uma propriedade rural a longa distância, desenvolvida em alguma sala em Brasília. Com ar condicionado, lógico! Achando que administrar uma propriedade é igual ao game famoso da internet “farmville”, onde para administrar uma propriedade basta apenas clikar num botão.
O governo nos exige cumprir leis, mas se esquece da aplicação da teoria aliada à prática, desprezando a imensidão e características próprias de cada bioma brasileiro, e não são poucos os biomas. Recentemente, participei da audiência pública em Corumbá/MS a respeito do Código Florestal. Essa discussão é séria. Nós dependemos dessa aprovação e regulamentação para sabermos o que podemos fazer ou não com as nossas propriedades. Eu tenho algumas dúvidas que provavelmente não são apenas pertinentes a mim, mas a todos os produtores rurais. Cito como exemplo o tema sobre a reserva legal de 20% aqui em Mato Grosso do Sul e me pergunto se poderemos ou não criar o nosso gado nessa invernada destinada a preservação. Tratando-se do Bioma Pantanal, intacto mesmo após 200 anos de ocupação entre o homem e a pecuária, essa dualidade é de valor imensurável e indiscutível na sobrevivência do meio ambiente pantaneiro, mas pouco considerada por falta de conhecimento de causa. Mas caso persista a negativa da não ocupação sustentável das reservas legais, quero saber quem vai arcar com a autorização, contratação de empreiteiro, aramados e manutenção das cercas que deverão fechar a reserva legal? E se pegar fogo na reserva e queimar o meu campo, quem será responsabilizado? Precisamos agir com responsabilidade, equilíbrio e principalmente com bom senso considerando a realidade rural brasileira de cada bioma. Reitero aos nossos governantes que jamais se deve desprezar a realidade.
Este ano temos eleição e quero convocar a todos os cidadãos que façam valer a força do voto. O agronegócio está reagindo e vai mostrar a sua força. Exercendo com dignidade a profissão de produtor rural e se orgulhando disso com muita honra. O Brasil só tende a ganhar. PT Saudações.
OTÁVIO AUGUSTO COSTA DE LACERDA
Produtor Rural Pantaneiro - MS
E-mail: pantanal2005@hotmail.com
Este blog foi criado para informar e unir produtores e lideranças do setor agropecuário. Em reunião realizada dia 21 de junho em Santiago - RS, foi decidido realizar novamente um caminhonaço. Primeiramente será realizado um manifesto em Porto Alegre, dia 10 de agosto, em frente a Farsul, na pauta renegociação das dívidas, renda e questões ambientais. Seu apoio é muito importante!
Porque estamos nos mobilizando...
PORQUE ESTAMOS NOS MOBILIZANDO...
Em estudo divulgado pela FECOAGRO/RS, dia 16/06/2010 no jornal Correio do Povo, pode-se observar que o setor agropecuário está sem renda.
O MILHO com custo de R$ 18,99 a saca está sendo comercializado por R$ 15,74, prejuízo de 16,58%, o preço de comercialização da SOJA está 30% menor do que em 2009, na época era comercializada a R$ 47,00 a saca de 60kg, hoje está custando R$ 33,00. A realidade de Santiago, que colheu 30 sacas por ha, dados da EMATER, apresentou déficit de 2,64 sacas, isso significa que faltou 2,64 sacas para cobrir o custo da lavoura. Com o TRIGO a situação é ainda pior, não existe comercialização, o custo é de R$ 33,01 e o preço de venda é de R$ 21,56, prejuízo de 35%. O ARROZ de 20 anos analisados teve prejuízo em 13.
Na pecuária os dados também assustam: no sistema de CRIA de 11 anos analisados 8 apresentaram prejuízo, RECRIA E ENGORDA no mesmo período se observou prejuízos em 7 anos e no sistema de CICLO COMPLETO o pior resultado, de 11 anos analisados em 10 teve prejuízo.
Em estudo divulgado pela FECOAGRO/RS, dia 16/06/2010 no jornal Correio do Povo, pode-se observar que o setor agropecuário está sem renda.
O MILHO com custo de R$ 18,99 a saca está sendo comercializado por R$ 15,74, prejuízo de 16,58%, o preço de comercialização da SOJA está 30% menor do que em 2009, na época era comercializada a R$ 47,00 a saca de 60kg, hoje está custando R$ 33,00. A realidade de Santiago, que colheu 30 sacas por ha, dados da EMATER, apresentou déficit de 2,64 sacas, isso significa que faltou 2,64 sacas para cobrir o custo da lavoura. Com o TRIGO a situação é ainda pior, não existe comercialização, o custo é de R$ 33,01 e o preço de venda é de R$ 21,56, prejuízo de 35%. O ARROZ de 20 anos analisados teve prejuízo em 13.
Na pecuária os dados também assustam: no sistema de CRIA de 11 anos analisados 8 apresentaram prejuízo, RECRIA E ENGORDA no mesmo período se observou prejuízos em 7 anos e no sistema de CICLO COMPLETO o pior resultado, de 11 anos analisados em 10 teve prejuízo.
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